terça-feira, 31 de outubro de 2017

POESIA MATEMÁTICA

Millôr Fernandes

As folhas tantas
Do livro MATEMÁTICO
Um QUOCIENTE apaixonou-se
Um dia doidamente
Por uma INCÓGNITA

Olhou-a com seu olhar INUMERÁVEL
E viu-a, do ÁPICE à BASE,
Uma FIGURA ÍMPAR;

Olhos ROMBÓIDES, boca TRAPEZÓIDE,
Corpo OCTOGONAL, seios ESFERÓIDES.
Fez da sua uma vida
PARALELA à dela
Até que se encontraram no INFINITO.

“Quem és tu?”, indagou ele
Com ânsia RADICAL.

“Sou a soma do quadrado dos catetos”.
Mas pode me chamar de HIPOTENUSA.”

E de falarem descobriram quem eram- O que, em ARITMÉTICA, corresponde A almas irmãs – PRIMOS-ENTRE-SI.

E assim se amaram ao QUADRADO da velocidade da luz numa SEXTA POTENCIAÇÃO.
Traçando ao sabor do momento e da paixão RETAS, CURVAS, CÍRCULOS E LINHAS SENOIDAIS.

Escandalizaram os ortodoxos das
FÓRMULAS EUCLIDIANAS
E os exegetas do UNIVERSO FINITO.

Romperam convenções
NEWTONIANAS E PITAGÓRICAS

E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar, uma PERPENDICULAR.
Convidaram para padrinhos
O POLIEDRO e a BISSETRIZ.

E fizeram PLANOS, EQUAÇÕES e DIAGRAMAS.
Para o futuro sonhando com uma felicidade INTEGRAL e DIFERENCIAL

E se casaram e tiveram uma SECANTE e TRÊS CONES

Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia em que tudo,
Afinal, vira monotonia.

Foi então que surgiu
O MÁXIMO DIVISOR COMUM
Freqüentador de CÍRCULOS
CONCÊNTRICOS VICIOSOS

Ofereceu-lhe, a ela, uma
GRANDEZA ABSOLUTA, e reduziu-a a um DENOMINADOR COMUM.

Ele, QUOCIENTE, percebeu que com ela Não formava mais UM TODO, UMA UNIDADE.

Era o TRIÂNGULO, tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era a FRAÇÃO
MAIS ORDINÁRIA

Mas foi então que Einstein descobriu a RELATIVIDADE.
E tudo que era espúrio passou
A ser moralidade

Como, aliás, em qualquer Sociedade.

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