sábado, 20 de fevereiro de 2016

Quando Teremos uma Revolução Copernicana na Educação?

Quando Teremos uma Revolução Copernicana na Educação?
Por Jenner Barretto Bastos Filho
Uma Revolução Copernicana na Educação comportará radical transformação em pelo menos três dimensões, quais sejam: cognitiva, ética e política. Todas essas dimensões são imprescindíveis. Ainda que não se possa pensar em Educação como algo independentemente de conhecimento, ela definitivamente não se esgota naquilo que alguém possa e deva conhecer. Para que venhamos a reivindicar minimamente o seu estatuto de genuína, a Educação necessariamente terá que pressupor valores éticos, atitudes proativas perante a sociedade, procura incessante do exercício da cidadania, procedimentos em prol da inclusão de contingentes cada vez mais amplos de pessoas, autonomia intelectual para que em sinergia com os demais sujeitos do processo venhamos a julgar consequente e pertinentemente o que ocorre no mundo, e autonomia política para que tomemos decisões que sejam éticas e corajosas.
Ambos os papéis desempenhados por professores e estudante devem ser centrais. Não poderá haver uma Educação genuína sem reciprocidade, sem mão dupla e sem protagonismo múltiplo dos sujeitos que educam e são educados a um só tempo. Ela tem que ser, outrossim, democrática e não elitista. Ela não comporta fundamentalismos de quaisquer ordens sejam eles racismos, hostilidades diante de orientações sexuais, corporativismos, desrespeito às diferenças, intolerâncias religiosas ou de quaisquer outras formas, pois tudo isso degrada a dignidade humana, vai na contramão da ética e se contrapõe definitivamente ao próprio fundamento do que deva ser uma Educação genuína. A tolerância deve ser ampla, mas ela não deve ser tolerante com a intolerância pois esta última somente destrói.
O conselho de Antonio de Castro Alves (1847-1871) para ‘semear livros, livros à mão cheia e mandar o povo pensar’e o conselho de Monteiro Lobato (1882-1948) segundo o qual ‘um país se faz com homens e livros’ continuam, ambos, na ordem do dia. As novas tecnologias de informação e de comunicação, diferentemente de desdizê-los, os confirmam cada vez mais e mais, se bem que sob novas formas que tanto podem ser mais quanto menos eficazes. Cabe a nós próprios fazê-las mais eficazes.
Uma Revolução Copernicana na Educação, contudo, não terá lugar de uma hora para outra como se acontecesse em um estalo de dedos. Certamente, ela exigirá penosos esforços. Para fixar as ideias, vejamos o Vestibular, identificado por quase todo Educador como um mal, pois polariza negativamente o que deve ser ensinado e como deve ser ensinado, e ainda pior, mediante macetes mnemônicos que constituem somente memorização acrítica e mero carreirismo. Como contraposição ao antigo vestibular, apareceu o ENEN (Exame Nacional do Ensino Médio) a fim de que não fossem incentivadas todas essas qualidades negativas apontadas acima e sim, pelo contrário, que fosse encorajada uma postura crítica e de atitudes criativas diante dos teores abordados. Não se pode esperar, contudo, por panaceias e é importante trabalhar em prol: do estímulo de atividades criativas; da leitura acompanhada de reflexão; da redação compreensível e elegante; do gosto pelas disciplinas formais e científicas, bem como por quaisquer outras disciplinas; dos compromissos éticos, políticos e cognitivos para com os demais, inclusive aqueles que implicam em entusiasmo vibrante diante da aventura de conhecer.
Formação de quadros qualificados constitui-se em algo que demanda tempo. Um bom professor, elemento fundamental para uma Revolução Copernicana na Educação, exige uma formação que demanda pelo menos 20 anos. Precisamos de bons Professores e esses precisam ser valorizados na sociedade. É necessário, outrossim, que os Professores de maneira afirmativamente positiva façam jus a seu importante mister e trabalhem nesta imperiosa direção. Boas Políticas Públicas nesta direção são imprescindíveis.
A recomendação de Montaigne (1533-1592) dada no Capítulo XXVI do Livro-1 de seus ‘Ensaios’ mantém a sua atualidade. Neste capítulo intitulado ‘Da educação das crianças’ ele argumentou que bem mais vale uma cabeça bem feita do que uma cabeça simplesmente cheia. Cabeça bem feita é algo bem melhor do que se ela fosse simplesmente cheia, se bem que alguns conteúdos sejam imprescindíveis para a formação de um cabeça exemplar. Deste modo, não poderemos ter cabeças bem feitas se somente existirem cabeças vazias. Pois é, serão cabeças exemplares e autônomas, em número considerável, que protagonizarão uma Revolução Copernicana da Educação entre nós.
*Jenner Barretto Bastos Filho é professor na Universidade Federal de Alagoas e Doutor em Física Teórica pela ETH- Zurique, Suíça. É membro correspondente da Academia Paraense de Ciência e contemplado com a Medalha do Mérito Acadêmico UFAL 45 Anos. Tem interesse nos campos de Fundamentos da Física, Ensino de Ciências, História e Filosofia da Ciência e em questões ambientais e de desenvolvimento.

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